quinta-feira, 13 de abril de 2017

Pais são pais porque filhos são filhos...






  O que fizeste hoje? (…) Brincaste e…?? Mais nada? (…) Porque é que nunca contas à mãe o que fazes na escola?”
Quantas vezes estas perguntas ganham forma e espaço no carro na hora de partir rumo a casa? Provavelmente tantas vezes quantas as que compõem o momento de ir buscar à escola . Como pais queremos saber, controlar, filtrar e no fundo centrar em nós o poder de protecção máximo…escrutinar tudo o que escapa ao nosso olhar de falcão, radar timorato de suricata e garras de felino escondido entre ervas altas na planície.

Pais são pais, como tal têm de saber tudo dos filhos!
Têm mesmo? O que significa efectivamente isso? O que estará por detrás desse querer saber?

Lá está: Pais são Pais! e como tal os pais têm o melhor lugar, papel, função e privilegio no mundo e vida dos seus filhos. Porque filhos são filhos! E não deverá existir vinculo mais fiel, genuíno e exclusivo do que este, com medidas, formas e descrições únicas e incapazes de tabelar e quantificar. Este é com certeza um conceito de unidade\união dividida em dois que está para lá daquilo que as matemáticas, físicas e químicas poderão explicar. Porém uma relação de vinculação deverá encontrar-se num ponto mais distante de uma relação de poder e controlo, mas num ponto equivalente de uma relação de reciprocidade e equilíbrio.

Uma relação que nasce na “ocupação” de um espaço interior durante 9 meses, que floresce e nutre num espaço exterior partilhado e num outro interior individual e intimo por muito e muito mais tempo (embora sempre pouco). É este o único e verdadeiro poder inerente a uma relação de vinculação, um dentro que depois se vive fora mas também e ainda dentro. Confuso? É sempre mais fácil e maravilhoso de sentir do que explicar.
Porém, quanto mais mágica e especial, mais receios, por vezes medos, ou mesmo angústias tenderão a surgir sempre que uma nova relação se estabelece e tantas vezes se apresenta como necessária e fundamental
.
Mas quem melhor que eu, pai, para cuidar? Para saber do meu filho e ajudar??
A resposta é simples: Ninguém! Ninguém é melhor que uma mãe ou pai para ser exactamente mãe ou pai (entenda-se mãe e pai na máxima ascensão da palavra e titulo de quem cuida, educa, ama, sofre e erra; e não qualquer uma pretensão a tal)! Pais são pais! Logo pais não são melhores amigos, não são professores, pediatras ou psicólogos. São pais! Que mais se poderia desejar ser?

Cada relação, cada papel deverá conhecer os seus limites como um corpo não visível e concreto mas implícito, lapidado, consolidado e polido à medida do crescimento e desenvolvimento interno de cada sujeito.
O mesmo sucede nas relações e processos psicoterapêuticos. Para lá dos limites inerentes ao espaço fisico em que cada sujeito e terapeuta se acomodam e aninham, existem as paredes sólidas mas invisíveis que dão corpo à relação e processo terapêutico. Se por um lado no caso do acompanhamento de adultos este parece um conceito um pouco mais tácito, no caso do processo terapêutico com crianças torna-se mais complexo e carece de um forte realização e explanação sobretudo para com os progenitores.

“ Nunca sei o que é que ele lhe conta? Ele nunca me diz o que fala aqui!”

Compreender que aquele é o espaço da criança, das suas coisas e de tudo aquilo que esta pretender colocar nele, nem sempre è fácil para os pais. Porém, não existe psicoterapia se não existir confidencialidade, protecção e sigilo sobre tudo o que acontece da porta para dentro. O Psicólogo é um agente facilitador e promotor do contacto da criança com as suas questões internas, e sem uma relação de confiança e empatia esta dinâmica fica seriamente comprometida.
Pais são pais e sem a colaboração e empenho dos mesmos qualquer processo terapêutico tenderá a ser incompleto, um corpo sem um membro que coloque em causa uma mobilidade harmoniosa e saudável. E entramos aqui num registo nem sempre fácil de conquistar e manter, os pais deverão ser aliados e parceiros do processo terapêutico, estando disponíveis, partilhando informações, devolvendo preocupações, promovendo mudanças e respeitando a relação criança\terapeuta. No mesmo sentido, os pais deverão sentir-se ouvidos e compreendidos nas suas crenças e princípios, contidos nas suas angustias e preocupações, bem como, esclarecidos nas suas dúvidas e ilações. Como tal, os pais deverão formar uma aliança terapêutica com  o clínico, que fomentará na criança uma sensação de contenção e importância que promoverá um processo psicoterapêutico mais sólido e eficaz.
Pais são pais! Como tal, não têm de saber tudo sobre os filhos, da mesma forma que estes nunca saberão tudo sobre os pais. Mais importante que este “saber tudo”, alimentado pelas inseguranças e receio de perda de valor, os pais deverão conhecer os seus filhos e estes, numa reciprocidade genuína e única, deverão conhecer os seus pais. Os nossos filhos têm o direito a saber como nos sentimos perante diferentes situações, a revelar curiosidade e questionar sobre o nosso dia, a conhecer e prever as nossas reacções…só assim terão mais facilidade em contactar e partilhar as suas próprias emoções, pensamentos, medos e angústias.

Neste sentido, como pais estamos sempre a tempo de enriquecer as nossas perguntas e respostas, valorizando cada segundo das interacções com os nossos filhos.
Assim…
Filho gostava de te contar uma coisa importante que me aconteceu hoje no trabalho.(…) O que achas?(…) Achas que podia ter feito as coisas de forma diferente?(…)

Ontem quando não quiseste falar comigo fiquei a sentir-me um bocadinho triste e a achar que já não confiavas em mim, mas respeito que nem sempre te apeteça falar. Mas quando quiseres vou estar disponível.”



Drª Joana Cloetens
O Canto da Psicologia



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