quinta-feira, 29 de junho de 2017

O Rescaldo depois da Catástrofe – Efeito do Trauma





Extinto que está o incêndio de Pedrogão Grande, e num momento em que a crise emergente deu lugar a uma espécie de rescaldo, importa pensar: E agora? Não obstante todos os recursos que estão a ser mobilizados para pôr em marcha programas de apoio aos inúmeros lesados por esta catástrofe, estamos particularmente atentos à necessidade de dar suporte emocional a todos os que, de algum modo, estiveram envolvidos ou foram tocados pela mesma, considerando a dimensão traumática de um evento desta natureza.
Com efeito, no âmbito da saúde mental, sabemos que é imperativo atentar às repercussões psíquicas que os acontecimentos geram. As vítimas de calamidades não são apenas aquelas que estão presentes no momento ocorrido, como também todas as que, de alguma forma, são afetadas ou que se sentem parte da situação, pelo que pensamos que os números até à data apresentados encapotam uma escala de maiores dimensões, se pensarmos nas famílias das vítimas mortais, nas equipas envolvidas no terreno, nos profissionais de saúde que prestaram cuidados, nas populações circundantes, entre tantos outros.
Assim, pensar situações como a ocorrida em Pedrogão remete-nos para um olhar atento sobre o efeito do trauma psicológico nos indivíduos, considerando que este é a consequência face a um choque emocional violento, que pela sua dimensão e/ou intensidade, não pôde ser metabolizado pelo aparelho psíquico. O sentimento de impotência associado a um acontecimento traumático, onde o sujeito se vê implicado sem qualquer previsibilidade ou possibilidade de proteção, desencadeia respostas emocionais diversas que, na maioria das situações, se manifestarão posteriormente. A ideia comummente associada a estas vivências de que “é preferível esquecer” (enquanto mecanismo possível para aliviar a dor e o sofrimento), constitui, na verdade, o maior obstáculo ao tratamento e à intervenção com as vítimas desta situação. Pelo contrário, importa enfatizar que é importante para aquele que experimentou uma situação traumática poder relatar ao outro a sua história, endereçando o seu testemunho à escuta de alguém que possa vir a promover a abertura de uma possibilidade de representação da situação traumática.

Se nos apercebemos, enquanto espectadores, que os meios de comunicação social têm enfatizado a necessidade de encontrar bodes expiatórios, numa tentativa desenfreada de atribuir responsabilidades para o sucedido, enquanto técnicos de saúde mental, desviamos o olhar para uma outra leitura do problema: para além das políticas públicas e da responsabilização do poder público, parece-nos da maior pertinência reforçar a necessidade de novas ações interdisciplinares, que incluam a intervenção de equipas de saúde mental, junto deste número de tamanha dimensão.


O Canto da Psicologia
 Dr.ª Joana Alves Ferreira


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