Senta aqui…vamos brincar!!
A enorme caixa de brinquedos sobe pelo
ar como quem levanta alteres e lá do alto caem como numa cascata brinquedos,
brinquedinhos e tralhas que mapeam o tapete da sala como uma introdução à sessão
que vai começar. Sabemos de antemão que o nosso lugar já não é no cadeirão ou
sofá…é ali no chão que um outro mundo se vai apresentar, onde uma peça de
madeira pode ser uma nuvem caída do céu ou um tanque de guerra, ou ainda uma princesa no seu corcel a deambular numa
floresta. Tudo pode ser tudo…e tudo faz parte desse mundo interno que é gigantesco,
rico e nele pode habitar toda uma imensidão de seres, monstros atrás de árvores,
medos em cima de camas, fadas e bruxas que voam e tudo e tudo.
Vamos
brincar com as nossas coisas mas à tua maneira.
Esta
é a tua brincadeira!(…)
E cada brincadeira é diferente da
anterior, umas vezes mais intempestivas, outras meticulosas e pormenorizadas,
mas há espaço para todas elas, contidas num momento dedicado só e apenas aquele
mundo interno tantas vezes desarrumado. A Ludoterapia é exactamente isso, uma
terapia através do brincar, uma forma de intervenção em que o psicólogo desce
ao nível da criança, sem esperar o inverso, e toma parte dos seus cenários,
histórias, fantasias. Fala a sua linguagem não verbal e comunica em total
sintonia e compasso com a criança. O terapeuta é então
o observador, mediador e o colo, que estende em seu redor uma rede invisível capaz de conter, como uma segunda
pele, tudo o que é possível de ser pensado, sentido e elaborado. O psicólogo e
a criança olham ambos o mundo debaixo para cima, e sem ignorarem as raízes da árvore
que os acomoda, protegem-se das tempestades que não molham mas assustam, bem
como, do sol que ofusca o olhar mas aquece a pele.
Cada objecto, personagem, fala, função e
história são assimilados e valorizados, como pequenos e fortes tijolos de toda
uma construção que se deseja suficientemente robusta para não cair mas, flexível para se permitir a tremer sem
tombar.
Agora
tu és a professora e vais fazer assim…(…)
Este
aqui é o palhaço, chama-se João…tem o
mesmo
nome do meu colega da escola!(…)
Esta
fada vem e põe os pais felizes e os
filhos também.(…)
O porquinho caiu no buraco e ninguém o ajudava!
(…)
Batalhas são travadas
entre fortes e fracos, soldados ficam “morridos” e “renascidos” casando com princesas,
em festas com palhaços, onde a professora também é convidada e vem da quinta
onde tem porquinhos, e tudo acontece ali sentados no chão mas também lá dentro…dentro
de si. E poderão vir fadas, feiticeiros e bruxas, mas a verdadeira “magia” acontece
quando a criança se permite a confiar, a sentir-se livre de expressar à sua
maneira, o que na maioria das vezes escapa a outros olhares e em tantas outras
fica na sombra dos medos e conflitos de uma realidade que não se permite descer
ao seu nível.
E como é bom brincar no chão
fortalecer, valorizar e reforçar as personagens saudáveis, dar significado e
transfromar os cenários pouco definidos
e … fundamentalmente, compreender e aceitar o que cada mundo interno tem
para mostrar.
Senta
aqui…vamos brincar…tenho tanta coisa para te contar!(…)
A
todas as crianças que nos permitiram conhecer um
pouco mais o seu mundo,
um gigantesco Obrigada!
A
todos os pais, cuidadores e educadores
em caso de dúvida…brinquem!
Dra. Joana Cloetens
Canto da Psicologia
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