Longe vão os tempos da expressão “um homem não chora”. Ou
pelo menos espera-se que assim o seja, tal não tem sido a evolução do papel do
homem na sociedade atual. Poderíamos falar da emancipação feminina, tão fundamental
em tempos passados e, lamentavelmente, ainda necessária em tempos presentes. No
entanto, optamos hoje por algo diferente, apesar de se poderem encontrar alguns
pontos de contacto.
Se nos focarmos no papel que os homens ocupam no seio
familiar, particularmente enquanto pais, é fácil ver algumas diferenças em
relação a gerações passadas. Não generalizando, mas fazendo-o de qualquer
forma, o pai do século vinte e um chora. E muda fraldas. E dá colo quando o
bebé faz birra. E opina em relação à sua alimentação. E assiste ao parto,
chegando até, quem sabe, a cortar o cordão umbilical, como quem diz “não te
carreguei durante nove meses mas agora os meus braços são teus”. Claro que
estas não são tarefas essenciais para que um homem alcance o estatuto de pai
com legitimidade; queremos apenas demonstrar como a típica imagem paterna
enquanto austera, distante e pouco cuidadora parece ter vindo a evoluir para um
plano mais próximo da imagem materna, tipicamente associada a cuidados e
afetos. Existem naturalmente exceções, e certamente que alguns homens no
passado terão desafiado os cânones de então, assim como atualmente outros
poderão não querer assumir este papel na vivência da sua parentalidade.
Parece-nos, contudo, que este maior equilíbrio entre as funções desempenhadas pelos
pais e pelas mães é já uma realidade em muitas famílias.
A bissexualidade psíquica do ser-humano começa a ser
reconhecida com toda a naturalidade que lhe deverá ser inerente, sem
preconceitos. De facto, a mãe também pode ralhar e impor regras, assim como o
pai também pode curar um joelho esfolado com um beijinho. A mãe também pode ter
uma carreira de sucesso e estar fora todo o dia, assim como o pai também pode
optar por ficar em casa a tratar dos filhos. É uma conquista de ambos, o poderem
desafiar o paradigma de género ainda tão disseminado pela nossa sociedade. De
forma particular, e voltando à expressão que referimos inicialmente, é
fantástico assistir à tomada de consciência de que, afinal, um homem pode
chorar e não ser menos homem por isso.
Remetendo para a família, consideramos que é absolutamente
essencial que exista um bom equilíbrio entre o casal parental, seja ele
diferente do que estamos habituados ou não. Se este se apresentar como uma
frente unida, com complementaridade e flexibilidade, é possível a ambos alternar
entre funções e tarefas, e dançar juntos ao som de uma música que toca só nas
suas cabeças, em harmonia.
Drª Carolina Franco da Silva
O Canto da Psicologia
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