quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Quando a realidade virtual se confunde com a realidade ...






Vivemos, actualmente, na correria desenfreada da conquista dos likes, da procura dos tweets e do encontro com o melhor filtro do instagram, não esquecendo as respostas que estão pendentes no whatsapp.
- "Tem wifi?" - uma pergunta cada vez mais obsoleta, considerando que actualmente todos nós arranjámos de uma maneira ou de outra, forma de estar online sem restrições. Vivam os pacotes de dados e as ligações wireless que nos trazem a uma nova realidade: a realidade virtual! A realidade que expõe e esconde, a realidade que alegra e entristece, a realidade que é transparência e camuflagem paralelamente. 

É de conhecimento geral que a revolução tecnológica nos aproximou e trouxe consigo o poder do conhecimento, tornou tudo mais fácil e acessível. Contudo, também é esta Era a responsável por novos tipos de dependência, episódios de ansiedade, situações de isolamento e desesperança e comportamentos anti-sociais.
Como psicoterapeutas não podemos negligenciar esta forma de estar, sentir e relacionar. Não nos pode ser alheia a dinâmica virtual e a forma como todos os movimentos psicológicos e sociais se vão adaptando à azáfama virtual. A dedicação cada vez maior a este mundo em detrimento do mundo externo tem que nos fazer reflectir sobre o impacto naquilo que é um dos grandes pilares responsável pela saúde mental: a Relação. Sabendo que a qualidade das relações determina o bem-estar físico e psicológico, importa analisarmos e compreendermos o seu funcionamento nos mais diversos contextos. 

- “Como andam as re(lações)des sociais?” – já todos nós ouvimos relatos ou presenciámos a facilidade com que as crianças são entregues aos [educadores virtuais], autênticos milagreiros na altura da refeição ou naqueles momentos em que estão particularmente impacientes. Já todos nós presenciámos a urgência da captação em foto ou vídeo para o tão esperado post em subtracção ao sentir e vibrar de um concerto. Já todos nós nos apercebemos que são necessárias 10, 20 ou 30 selfies para que apenas uma seja eleita para publicação.
Sabemos da importância que as relações afectuosas e emocionalmente ricas têm na promoção de estabilidade, confiança, segurança e capacidade de superação. Pessoas com vínculos sólidos decorrentes de relações com qualidade são mais saudáveis e felizes. Em oposição, temos as relações inseguras que originam muitas vezes sintomatologia psicopatológica associada a desesperança e comportamentos de risco.

Deparamo-nos assim, entre outras problemáticas associadas a este tema, com duas frentes muito significativas. Por um lado, a enorme dedicação de tempo à realidade virtual em detrimento da realidade externa e por outro, a fraca qualidade que emerge das relações, resultante da busca contínua e imediata de validação virtual do outro, bem como da procura de um vínculo, ainda que superficial e frágil que contenha algumas das angústias existentes.

Como psicoterapeutas temos a obrigação de estar online face a esta realidade.


Drª. Fanisse Craveirinha
O Canto da Psicologia



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