Por falta, por medo ou
por preguiça na utilização das ferramentas empáticas, desconsideramos não
poucas vezes o sofrimento do outro boicotando a sua expressão emocional.
Patologizamos a dor porque ela assusta-nos, arrasa a nossa desejada
funcionalidade quotidiana ao despertar as nossas inquietudes internas, que
tentamos manter abotoadas sabe-se lá onde e como.
Quando choramos pedimos,
sem palavras, o cometer da dimensão empática de um interlocutor, esperando dele
uma conduta de aproximação (Freitas-Magalhães, 2015) algumas vezes na esperança
de um consolo para uma dor indizível, como o caso da perda de um alguém amado
que partiu e que queremos restabelecer na nossa vida.
Desde o choro do bebé até
ao choro pela morte de alguém, as lágrimas comunicam, funcionando como um
mecanismo natural de libertação e, portanto, de cura.
As investigações apontam
para que o choro tenha surgido antes da linguagem falada como uma expressão
para comunicar dor (dor física, medo, raiva, humilhação, solidão, tristeza).
Sabe-se que chorar é um
ato universal e que produzimos cerca de 100 litros de lágrimas por ano,
existindo essencialmente dois tipos de lágrimas, as basais, cuja função é
lubrificar a cavidade ocular e eliminar bactérias, e as lágrimas emocionais,
com uma função de cariz mais social, relacional. O nosso corpo é inteligente e “chora” para se higienizar. O nosso
corpo expulsa substâncias tóxicas através das lágrimas da mesma forma que o faz
através da urina e da sudação.
As lágrimas que se produzem em situações de stress servem
para expulsar do nosso organismo as substâncias que elevam o cortisol, a
hormona responsável pelo stress. Segundo as investigações do bioquímico William
H. Frey II, este é o motivo pelo qual nos sentimos melhores depois de chorar.
Chorar proporciona-nos uma sensação anestésica e de calma, aliviando a angústia
e libertando a tensão (Vomero, M., 2012). Não é por acaso que se utilizam expressões
como “Chorar limpa a alma”.
A repressão do choro
pode originar diversos problemas de saúde na medida em que, quando choramos
expressamos necessidades (redução da tensão, restabelecimento do equilíbrio
fisiológico, sinal de pedido de ajuda, redução da agressividade e manipulação
do outro), aumentando assim a probabilidade de satisfazer tais necessidades na
relação com um outro (tal como quando um bebé chora).
Chorar é portanto
natural e, apesar das influências culturais, o choro deve ser entendido como
uma externalização necessária que deve ser permitida.
André Viegas
O Canto da Psicologia
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