quinta-feira, 4 de maio de 2017

A Baleia azul e a adolescência perdida...






 O jogo Baleia Azul tem estado a chocar o mundo! – Como é possível que adolescentes, na flor da idade, se auto-mutilem, se castiguem e procurem a morte? A perversão é feita pelo chamados “curadores” ou “administradores” que aliciam e incitam os jovens a assumir comportamentos auto-destrutivos, entendidos como “desafios”, em que o objetivo último é o suicídio. Referem que estes “curadores” são, também, jovens com historial de abusos e comportamentos disruptivos.  
O nome “Baleia Azul” surge com base na crença de que as baleias azuis (os animais) dão à costa voluntariamente com o intuito de perderem a vida, este jogo que começou na Rússia, é composto por um total de 50 desafios diários. Cada desafio é enviado diariamente pelo “curador” que pede provas (como fotografias ou vídeo) de que o desafio foi cumprido na íntegra pelos jogadores que são, por norma, adolescentes com problemas de depressão ou isolamento. Uma das premissas do jogo é que se deve jogar até ao fim, sem desistências e sem contar a ninguém.

Quando assistimos a esta crueldade, as questões que se impõem recaem sobre o que estão a sentir estes jovens? Talvez se sintam sozinhos, perdidos, numa solidão permanente que corrói, ameaça, deixa um vazio interior que é impossível de preencher e conter? São jovens que se sentem, possivelmente, sós não por não terem uma família ou pessoas à sua volta, pelo contrário, eles sentem a verdadeira solidão de quem está junto mas é incompreendido, mal-amado. Onde estão as relações de qualidade que são promovidas pelas famílias? Os afetos o estar presente de corpo e alma? Onde estão as relações que alimentam a alma e o coração? Onde está a intimidade, sentimento que se é compreendido e que se pode partilhar medos, alegrias e pensamentos? Onde estão as famílias, essencialmente, apaziguadoras, presentes e amáveis? E o amor que não julga, abafa e manipula, mas que sente, empatiza e acalma, será que ficou de lado?

Estamos numa era narcisista do parecer, em vez de ser, já não há espaço para as relações de qualidade que promovem a felicidade e o bem estar.
 Neste contexto é comum relacionar a fase da adolescência com a ideia de que é um período conturbado dos jovens. Começam a surgir conflitos com os pais, logo o afastamento  da família e a aproximação aos pares parece caracterizar o essencial na vida de um adolescente. O jovem sente que tem de pertencer a um grupo, com determinados ideais que se coadunam com a sua identidade.


Contudo a adolescência nem sempre é considerada como um período de crise por si só. Esta fase pode ser vivida com entusiasmo e alegria, apesar de algumas inseguranças e medos que acabam por acompanhar de forma distinta todas as idades.

Até que ponto devemos considerar a adolescência como uma crise certa, considerando esta assunção, como uma verdade indubitável? As situações alarmantes na adolescência tais como, agressividade,  delinquência,  depressão, toxicodependências, são o resultado de diversos fatores, sendo que a micro-cultura familiar, apresenta uma influência marcada, no desenvolvimento destas perturbações.

O problema do adolescente (ou o da criança) é na realidade, frequentemente, o problema da família nuclear, isto é, o da dinâmica relacional assumida.
O adolescente quando apresenta uma boa “nutrição narcísica”, ou seja, um bom desenvolvimento psicológico /relacional, acaba por ter uma estrutura psíquica resiliente, pelo que a probabilidade de se sentir atraído por comportamentos de risco, é muito menor nomeadamente, drogas, suicidio, auto-mutilação.
É uma ilusão considerar que é apenas a Internet ou outras causas externas, tais como, os grupos de amigos que estimulam a depressão grave ou os comportamentos de violência e/ou as adições. Uma boa educação emocional e afetiva, funciona como, um verdadeiro “antibiótico” contra estas “bactérias” exteriores.

A escolha dos amigos está intimamente relacionada com a qualidade das interações privilegiadas ao longo do desenvolvimento. É importante perceber até que ponto  o adolescente foi amado e respeitado pelas figuras relacionais centrais. O amor dado foi captativo, narcísico, de direitos e obrigações ou foi, altruísta, generoso, com limites saudáveis e justos.

Na realidade a “ Baleia Azul” é um sintoma que mascara uma sociedade doente emocionalmente, deve constituir um alerta para abrir os olhos, de que devemos estar atentos e presentes ao que se passa com as nossas crianças e adolescentes. E que, acima de tudo, devemos promover relações de qualidade e de intimidade emocional.

Mafalda Leite Borges
O Canto da Psicologia





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