quinta-feira, 11 de maio de 2017

Um crescer a três durante 9 meses...




Ser mãe/pai é uma experiência intensa a diversos níveis. 

Muito se fala  das questões físicas do processo de gravidez, dos cuidados alimentares, das alterações dos ciclos de sono, das alterações hormonais, entre outras; todos estes factores são importantíssimos em todo o  processo mas, não podemos  descurar as questões relacionadas com as  alterações centrais nas rotinas da mulher e do casal.

No entanto, quando falamos de certas questões emocionais associadas ao processo de gravidez que desmontam a ideia de que " a gravidez é um estado de graça" parece haver ainda uma certa dificuldade, um certo tabu, em olhar e pensá-las de forma tranquila e contentora mesmo que nos pareçam verdadeiramente assustadoras e difíceis de serem pensadas. 

Ora vejamos o trabalho que dá tudo isto...

Olhemos para os dois lados da gravidez: um primeiro,  que é caracterizado por um enorme entusiasmo, paixão, delícia, encantamento (tanto para os pais do futuro bebé como para a restante família e amigos) e que poderemos chamar "estado de graça";  e um segundo, vivido numa escala mais privada, que envolve stress, receios, angústias, ansiedades, cheio de ambivalências, entre outros que poderemos chamar " estado de desgraça". Ambos os lados pertencentes e integrantes de um mesmo processo e, acima de tudo, nenhum melhor do que o outro!

Peguemos num exemplo: um casal que vai ter o seu primeiro filho. 
No momento em que este casal sabe que "está grávido" confronta-se não com um mas, com três bebés: 
  • o bebé que  fantasiou ou sonhou; 
  • o bebé que já é real mas ainda invisível (o que já se encontra em desenvolvimento, com ritmos específicos);
  • e, posteriormente, o recém-nascido. 
É necessário, aqui, que se possa pensar, perceber, ajustar e integrar as próprias expectativas com a realidade.

Podemos ainda acrescentar um outro factor: a própria gravidez reflecte, de formas diferentes no futuro pai e na futura mãe, a vida anterior à concepção. Ou seja, o conjunto de experiências e necessidades que fazem ou fizeram parte do desejo de engravidar, as experiências que vivenciaram enquanto filhos e a própria adaptação ao estado de gravidez- as emoções, as fantasias, o desenvolvimento e construção da nova identidade enquanto pais, e as imensas dúvidas e medos...
  • O que é que significa para a vida dos pais terem um bebé?
  • Como é que este acontecimento vai afectar a relação do casal e por conseguinte a relação com o resto do mundo envolvente?
  • Vão ser bons pais?
  • Vão conseguir gerir as novas responsabilidades?
  • Como vão integrar estes novos papéis?
Na mulher, temos ainda as mudanças de humor, os medos que variam consoante as fases de desenvolvimento da gravidez, a ansiedade, os esquecimentos, a alteração da imagem corporal, a exaustão, as alterações na quantidade e qualidade do sono, entre muitas outras mudanças.

É importante que os pais tenham espaço para se poderem ajustar a esta nova realidade, que possam dar atenção ao que sentem, ao que pensam e que possam reflectir, em conjunto e individualmente, estes novos desafios.

De facto, ser pai/mãe é um processo com um potencial transformador enorme e que não abarca apenas coisas boas, alicerça, também, emoções ambivalentes tais como, stress, frustração, medos, entre muitas outras coisas. É quase como se nos dissessem: “agora vamos iniciar uma viagem no carrossel das emoções, das transformações, com muitos desafios”, que necessitam de ir sendo acolhidos, cuidados, geridos e integrados.

Tal como no carrossel, há um primeiro momento de expectativa, angústia, ansiedade antes de iniciar a primeira volta que depois, gradualmente, vai dando lugar  a um estado de descompressão e tranquilidade que nos permite aproveitar o resto da viagem com entusiasmo, investimento e sobretudo cheia de um amor infinito...


Drª Inês Lamares
O Canto da Psicologia




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